“A subsistência é mais forte do que o confinamento” foi uma das frases repetidas por Bernardino Soares, presidente da Câmara Municipal de Loures, durante uma conferência de imprensa sobre a situação da pandemia de COVID-19 no concelho.

“A nossa perceção no terreno foi que se uma pessoa que tem que ir trabalhar para não perder o emprego, porque está precário ou porque é a única forma de subsistir e de ter alimentação para a sua família, não há confinamento que a segure em casa”, referiu o autarca, lembrando que “a garantia do confinamento se obtém assegurando as condições para a sua subsistência com dignidade. Seja através de apoios sociais, alimentares, em medicamentos ou, nalguns casos, por realojamentos de emergência, caso isso seja determinado pelas condições de saúde pública”, reiterou.

Uma das primeiras conclusões a que chegaram as equipas de intervenção que estão a trabalhar terreno: “Quando há algumas semanas se começou a verificar um aumento de casos diários no concelho, entendemos, desde logo, que era preciso uma resposta diferente daquela que tinha sido usada noutras regiões e que seria indispensável uma intervenção no terreno”, afirmou Bernardino Soares. “Uma intervenção coordenada e conjunta das várias entidades que têm participação neste processo – a saúde, o Município, a segurança social e as forças policiais”, acrescentou.

Uma estratégia concertada, em locais específicos, que foi possível concretizar em definitivo, logo após a reunião com a ministra da Saúde, no passado dia 1 de junho. “No dia seguinte tínhamos equipas conjuntas do Município, da Saúde e da Segurança Social a intervir no terreno, em cada caso positivo dos focos mais intensos, procurando saber as suas condições socias, de habitabilidade, para podermos ter resposta para cada uma das situações”, referiu o presidente.

Com estas equipas no terreno foi já possível realizar cerca de duas centenas de visitas a localizações específicas e mais de 500 testes aos contactos próximos de doentes infetados. “Isto permitiu-nos ter um registo mais concreto da situação da pandemia, mas também um reflexo óbvio no aumento do número de casos no concelho”, salientou o presidente da Autarquia, referindo que “não se tratou de uma testagem aleatória, mas sim de uma testagem de pessoas que já conviviam com casos positivos”, e que serviu também para registar “as necessidades de apoio social”.

Acompanhado pelo diretor executivo do ACES de Loures e Odivelas, António Alexandre, pela coordenadora da Segurança Social de Loures e Odivelas, Catarina Magalhães, bem como pelo vereador da área social da Câmara de Loures, Gonçalo Caroço, pelo coordenador do Serviço Municipal de Proteção Civil, Rui Alves, Bernardino Soares revelou que durante a próxima semana, esta intervenção de proximidade no terreno, será reforçada com um aumento de equipas, num total de seis, para dar continuidade ao trabalho de “sensibilização e educação para a saúde, mas também para a atribuição de apoios e verificação das condições de habitabilidade”, acrescentando que para tal foi essencial “a disponibilidade manifestada pelo Governo e pela Segurança Social para responder, rapidamente, a estas situações”.

Para o presidente da Autarquia, a implementação desta estratégia, além de permitir um registo do número de casos, veio também confirmar os traços essenciais desta pandemia: “a precaridade laboral, a precaridade social, as condições de habitabilidade e o uso dos transportes públicos como fatores essenciais para caraterizar a população mais afetada pela COVID-19”.

 

Transportes públicos  

Ao nível dos transportes públicos a situação continua ainda por resolver. Segundo dados da Autarquia, durante o mês de maio, a principal operadora de transportes rodoviários privados do concelho esteve a operar a 55% da sua capacidade, o que, para Bernardino Soares, e para quem conhece o serviço “sabe que 100% já não é bom, e numa altura em que é preciso garantir distanciamento, só com dois terços de lotação é ainda pior”, afirmou, referindo que “é preciso injetar dinheiro, excecionalmente, no nosso sistema de transportes para garantir pelo menos os 100% de funcionamento”, até porque a população que temos vindo a acompanhar usa muito os transportes públicos”.

Uma situação que poderá ser amenizada pelo Governo com a inclusão, na proposta de Orçamento Suplementar, de uma verba para reforçar o sistema de transportes públicos a nível nacional. No entanto, “é preciso garantir que a parte que cabe à Área Metropolitana de Lisboa, e aos transportes rodoviários no nosso concelho, é suficiente e que esse reforço não aconteça só daqui a duas ou três semanas”, concluiu.

 

Saúde Pública 

Atualmente, existem no concelho de Loures cerca de 500 casos ativos, com maior incidência em nove zonas já identificadas e que estão a ser acompanhadas pelas equipas multidisciplinares que estão no terreno.

O diretor executivo do ACES de Loures e Odivelas, António Alexandre, revelou ainda que, desde o início da pandemia, existiram 34 óbitos nos concelhos de Loures e Odivelas e que o número máximo de pessoas internadas em unidades de cuidados intensivos foi de 18, estando a grande maioria assintomáticas ou com sintomas ligeiros e, por isso, a cumprir isolamento na sua residência.

Nos casos em que esta situação não se revelou possível, por falta de condições de habitabilidade, e de acordo com Catarina Magalhães, da Segurança Social, foram cinco casos encaminhados para a plataforma distrital de emergência para cumprir o isolamento.

“Apesar de os números terem aumentado”, com a implementação do plano de ação, que alia a georreferenciação dos casos no território, a intervenção conjunta no terreno e apoio social, “sabemos onde estão e como travar esse aumento”, referiu o presidente, lembrando que o “Governo deu como exemplo a seguir por outros municípios com situações similares” a estratégia de atuação que o Município de Loures tem em funcionamento.

Veja aqui a conferência de imprensa.